quarta-feira, 2 de dezembro de 2009














18 sopros
decantados sobre
a telha
interrompidos
em meio ao
diálogo
doce expectativa
aguardando o momento
para simplesmente bailar
não só bailar, homem,
mas amar como dois orixás
o sabem; negar e
desamar, e num sopro
paramos a chamar
o outro no olho, como
se deve chamar alguém,
a morrer por pouco
a calar sem medo
e berrar o silêncio
ouvir o absurdo
fritar, se dar
dançar
andar no meio fio, cair
construir asas de Ícaro, voar
em meio às chamas
azul-alaranjadas que
clamam por aquele
sabor acinzentado que
só os mais leves conseguem
sentir, lembra?
eram outros mambos e
outros mundo, sem o
gênero da cor, mas com
o gris das estrelas
negrume na quarta
vazio no quarto
corpo duplo e sedento
na cama
as cinzas escapam do
cinzeiro
a fumaça inunda a alma
e o que se vê é o
entrelace das mais
surdas fantasias
embebidas daqueles
que me dizem:
"e tu, que estás manco,
solto do mundo
como pluma, que farás?"
"morres à vida
como quem cai e
nunca volta
a agarrar-se nas
retas da mesma;
vês o calor e vai à
maneira de um beijo bárbaro,
cravo de sol e doçura."
eu lhes respondo: "sim,
o mundo é daqueles
que morrem
na expectativa do próximo
sopro."

Coletivo Íu, 25/11/09

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