quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Rotina



Na sala, cicatrizes do trabalho. Papéis, cigarros e um punhado cintilante de açúcar imitando uma constelação. Sob o bafo quente do dia e à deriva no mar da rotina, um lampejo.. Varando as lembranças de um extremo a outro. Paralisado, inerte, inabalável. Contempla de forma extemporânea a própria existência, como um transeunte arrastado magneticamente por uma vitrine qualquer. Numa fração de segundo onde nem mesmo o mais assíduo catador de horas pudesse aprisionar, tudo se evapora. Num bailar etéreo. A memória como uma caixa de pandora, onde se guardam involuntariamente bolinhas de sentimentos prontas para serem degustadas a qualquer momento tal qual suspiros em festa de criança. Caixa sem fim. Ávida pela plenitude lança em singelas doses cores, cheiros, sabores numa alquimia inebriante.
Contra a lógica linear e indelével do tempo, revive-se. Já temos nossa maquina do tempo. De volta aos papéis, pensa. “Quero minha cabeça sempre cheia disso".

Um comentário:

Anônimo disse...

Vim apreciar tuas letras embaralhadas em prosa e poesia.

Abraço de uma rotina em plena quarta-feira.