Não dormi de noite com as goteiras, disse a moça. Ela estava tonta, calçada de botas, o que lhe atrapalhava as forças e o sono. Mas já é de manhã, engoliu um trago de café ralo, quase amargo e jogou dois punhados de farinha na boca, como manda o cotidiano. Lá fora, pelo dia, o sol pincelava um quadro azul anil impecável com suas tintas lúbricas. Mais adiante, uma toalha muito alva enxugava as águas do mar, e as palmeiras brilhavam ao reflexo, movendo-se docemente, como se amassem. No entanto, a mãe do menino doente, metida em saia escura e blusa creme, sentiu-se diminuída, fez um muxoxo baixo. Parecia conformada com a situação. Puxou a saia para encobrir as varizes roxas e afagou a cabeça do filho. Enquanto a roupa quarava, a mulher chegou-se ao marido. Tinha as mãos encolhidas, finas ossudas. O rosto estava cavado, sem carne, terroso como barro de telha. Assim mesmo João a olhou e recordou-se de outros tempos:
- Hein, Rita, antigamente, hein... você era cheia, carnuda...
A mulher feriu-se na vaidade, avermelhou os olhos, que ficaram úmidos, mas apesar de tudo, nem uma lágrima saiu, como ensina o cotidiano.
(Joice)